ECLIPSE OCULTO

Das fases da lua,
Sua face cheia:
Devota das marés
De mares tão diversos.

Estrangeira, gozo a dor
Que não me deixa sem versos
Nem em vão,
Mas permite que me navegues.

DIVÃ

Cara a cara com minha cara,
Não sou eu, nem sou o outro,
Mas qualquer coisa de intermédio
De mim para o outro.


Dentro, em mim,
Subdivido arquivos,
Desorganizo gavetas,
Esparramo papéis,
Desfolho guardanapos
E arrumo um exfuturo.

Palavras nos discursos da memória,
Presas da vontade de liberdade,
Movimentam o ventre do desejo.

Organizam o monumento da vida
Que desce do carro andando,
Pára com os pés fincados no chão
E resolve-se em espiral.

PARTIDA

Mundo, mundo vasto moinho
Do tempo desdobrando flauta
Em cínicos amores.

Preste atenção querida,
Te avisei
Que a cidade é um vão
E precoce era a partida.

Mas você preferiu a beira do abismo
Cavado com seus próprios pés
Nas esquinas em que sua vida cai
Reduzindo as ilusões a pó
Para que melhor fosse partir
E eu pudesse te mandar escritos.

Anunciada a hora da partida,
Você se foi nunca tendo sido minha,
Mas apenas rainha dos sonhos meus.

MURO

Liso risco,
À risca rijo,
Arrisca nula
Ranhura arisca.

Sussurro,
Urro.
Estampido,
Alarido.

Seta,
Solta presa
A riscar mar.