UM DEDO DE PROSA

Nesse mar revolto em que me abro
Cansam-se boiando meus braços,
Entre perto-distante, longe-próximo.

Pó de nuvem nos sapatos
Na estrada de saída,
Meu nome é vento,
Porto de parada sem asa
Na rua que atravesso medida.

Passo a passo a cada despedida,
Saudade da chegada
Ou certeza da partida.

DANÇA DAS ÁGUAS

A bússola do peito
Sempre sabe, enfim,
Velejar marés.

Mesmo esgotada,
Involuntária pulsa,
Muda ímã
E entre nortesul
Faz porto de parada.


Do amor em si,
Coincidências e paixões,
Sua chegada.

DESERTO SEM NOME

Uma beleza que me aconteceu
Entre olhos de felino e um vento ateu
Contando sem certeza tudo que viveu.


Zé Pelintra penetra meu ventre
Ecoando o cigarro que me traga
Em secos goles de olhares esquivos,
Rotas meias palavras.


Um camaleão do sim
Pode sim querer sim

Escravizar o corpo no desejo raciocinado  
E mirar bolando malandragens afins.

OBSCENA

Enquanto os homens exercem seus podres poderes,
A literatura é subtraída em porões que ditam a dura.
Enquanto são feitos mais carnavais,
A vida sucumbe em rescisões contratuais.

Será que será que será que será
Que vamos parar, será?
Será que será que será que será
Que fazemos se não confirmar
A precisão de ridículos tiranos?


Queria gritar em um transe, um êxtase
Que minha alegria, minha ironia
É bem maior do que essa porcaria.
Que o que resta é tão somente putaria:
Pau no cu do mundo que será que será que será!


E o resto é silêncio.